mercredi 30 septembre 2009

Retour en direct sur la musique : 29/09, Edu Krieger.

Edu Krieger et sa huit cordes au Rival, 29/09,
présentation de "Correnteza" (photo Daniel A.)

(texte français, texto português traduzido do francês)


Pluie, confusion, trafic, énervement…Voilà dressé le tableau de la première journée de ce voyage sur l’axe Rio-São Paulo. Un temps pourri où chaque initiative prend dès lors un temps démesuré. Sans parler du stresse du décalage horaire. Angoisse ! Et pourtant, loin de me démonter, je pars à la chasse de quelques tickets de concert à venir, et je passe -tel un rituel obligé, mais longtemps espéré- au Modern Sound, le méga-magasin de cd’s et dvd’s de la Barrata Ribeiro à Copacabana.
Confusion, oui, dans laquelle j’ai un peu de mal à organiser dans ma tête mon agenda de shows, d’interviews, de préparation de celles-ci, de textes à rédiger…Et un peu de temps pour MOI ! Et si je lâchais tout pour flâner aux bords des vagues ou dans la forêt de Tijuca.. ? Sauf que voilà…Il pleut encore et toujours !
Concerts prévus entre autres : Zélia Duncan, jeudi premier octobre ; Caetano Veloso, le 5, au Vivo Rio, pour un concert carritatif, en format voix guitare ; et Mariana Aydar le 7 octobre au Canecão.
Pour clore la journée d’hier, le show tout en douceur d’Edu Krieger –artiste éminemment doué et sympathique- qui présentait au Théâtre Rival « Correnteza », son second cd très attendu, après le justement acclamé « Edu Krieger », sorti en 2007. Ce dernier avait placé la barre très haut pour un premier album, et je n’ai pas encore eu le temps d’entendre son dernier-né, acquis après le concert. De ce que j’ai pu écouter en "live", on reste dans un excellent niveau de composition, même s’il semble utiliser quelques ficelles déjà entendues. À vérifier sur l’album. Entouré d’un accordéoniste et d’un percussionniste, Edu démontre une grande habilité sur la guitare à 8 cordes (jusqu'au s’arrêtera-t-il ?). À la fin du concert, rapide discussion avec la productrice de la nouvelle révélation de la samba féminine, Aline Calixto, à propos de laquelle j’avais déjà pu écrire quelques lignes ici même. Une interview est en vue, même chose pour Edu Krieger. To be continued...

29 de setembro, chegada...Primeiro dia.

Chuva, confusão, trânsito, irritação... Eis o pano de fundo do meu desembarque nessa viagem cobrindo o eixo Rio-São Paulo. Um tempinho viscoso aqui no Rio, quando cada iniciativa leva então um tempo cronológico desmesurado até conseguir concretizar cada ação. Sem falar no estresse do efeito do fuso horário. Ansiedade é a palavra ! E no entanto, longe de me permitir desabar, parto em busca de ingressos para alguns shows à vista, e dou uma passada – já um ritual obrigatório, mas há muito tempo esperado - na Modern Sound, a mega loja de cd’s e dvd’s que fica na Rua Barata Ribeiro, em Copacabana.
Uma confusão, sim, na qual eu mal organizei na minha cabeça a agenda de shows, de entrevistas (e a preparação das mesmas em si), e também a ordem dos textos a redigir... E um pouco de tempo para MIM ! E se eu largasse tudo para relaxar junto ao mar, ou flanar pela floresta da Tijuca adentro... ? Ah sim…pois é…Tá chovendo !

Shows previstos, dentre outros : Zélia Duncan, na quinta, primeiro de outubro ; Caetano Veloso, dia 5, no espaço Vivo Rio, num espetáculo beneficente, no formato voz & violão ; e Mariana Aydar no dia 7 de outubro, no Canecão. Coincide isso tudo com esse período do FestRio, que distrai muito as pessoas desses espetáculos todos ; 8 de outubro, a premiação e a festa de encerramento ... depois tudo volta ao normal.

E para coroar o dia de ontem, 29 de setembro, o show de Edu Krieger – artista eminentemente talentoso e simpático – que apresentou no Teatro Rival, na Cinelândia, « Correnteza », seu segundo cd muito aguardado, depois do merecidamente aclamado « Edu Krieger », lançado em 2007. Esse último mencionado colocou o nível do trabalho do artista num patamar muito alto para um primeiro álbum, e eu não tive ainda tempo de escutar seu recém-nascido, que comprei logo depois do show. Do que pude apreender « ao vivo », Edu continua mantendo um excelente nível de composição, mesmo que ele pareça fazer uso de alguns códigos já decifrados. A verificar através do álbum.
Cercado por um acordeonista e de um percussionista, Edu demonstra uma grande habilidade com o violão de oito cordas (aonde será que ele vai parar ?). No final do show, uma rápida conversa com a produtora da nova revelação do samba feminino, Aline Calixto, a respeito de quem já escrevi algumas linhas aqui mesmo no blog. Mais uma entrevista em foco, com Aline, e o mesmo com relação a Edu Krieger...
To be continued...

samedi 26 septembre 2009

Retour en direct sur la musique (nouveau voyage).

Voyage sur l'axe Rio-São Paulo...
(Rio sur une oeuvre de Lia Mittarakis, 1934-1998)

(texte français
, texto português traduzido do francês)


Les fidèles visiteurs de ce blog auront constaté un ralentissement significatif quant à l’édition de nouveaux textes. Et de fait, un nouveau voyage sur l’axe Rio-São Paulo s’annonce, avec tous les préparatifs que cela suppose. Plus que la volonté de rencontrer les artistes, c’est une grande soif de concert que je veux assouvir. Vivre la musique, toute l’année, à travers des albums et des dvd’s, aseptise la passion. Il manque une dimension fondamentale.
Finalement, bien plus que le support sur lequel elle est gravée (le premier enregistrement sonore ne date que d’environ 130 ans), la musique est depuis la nuit des temps, une réunion de musiciens qui prennent plaisirs à jouer pour un public amateur. C’était comme cela dans les grottes de Lascaux, à la cour de Louis XIV, ou à la grande messe de Woodstock. Et en ces temps de crises du disque, le concert reste plus que jamais la source de revenu des artistes, quel que soit leur statut. Alors oui, il m’est difficile d’habiter loin de ma passion musicale, et de passer mon temps sur Youtube pour tenter de ressentir des vibrations. Ce voyage est dès lors bienvenu ! Bon, après m’être posé en victime des circonstances, j’avoue avoir été ravi de recevoir cette semaine par courrier, une dernière salve d’album avant mon départ. Comme d’habitude, je vous les colle ici…

Os fiéis visitantes desse blog já devem ter constatado um rareamento signifivativo na edição de novos textos. E, de fato, uma nova viagem cobrindo o eixo Rio-São Paulo se anuncia, com todos os preparativos que a ela se fazem necessários. Mais do que a vontade de reencontrar os artistas, tenho uma grande sede de assistir a shows, que pretendo saciar. Viver a música, ao longo da maior parte do ano, somente através de cd´s e dvd’s, torna essa minha paixão meio ascéptica. Fica faltando uma dimensão fundamental.
Afinal, mais do que o suporte sobre o qual ela é gravada (o primeiro registro sonoro data em torno de 130 anos atrás), a música existe desde a mais remota noite dos tempos; uma reunião de músicos que têm prazer a partir de tocar para um público amante da mesma. Assim foi nas cavernas de Lascaux, na corte de Luis XIV, e na grande bagunça de Woodstock. E nesses tempos de crise do mercado fonográfico, o show, mais do que nunca, passa a ser a fonte de renda dos artistas, qualquer que seja o status de cada um. Então, sim, de fato... não me é fácil morar assim tão longe da minha grande paixão musical, e ter que passar meu tempo em frente ao Youtube para tentar absorver as vibrações sonoras. Esse viagem agora é então mais do que bem vinda!
Bom, depois de posar como uma vítima das circunstâncias, eu devo confessar que senti uma grande alegria ao receber pelo correio, essa semana, uma última leva de álbuns antes da minha partida. Como de hábito, eu posto essa remessa abaixo para vocês...

DVD’S :
-ROBERTA SÁ :
« Pra se ter alegria » (Universal)

-DORIVAL CAYMMI :
« MPB especial 1972 » (Biscoito fino)

-DETONAUTAS ROQUE CLUBE : « Acústico » (Sony music)
-GONZAGUINHA : « Luiz Gonzaga do Nascimento Junior » (Emi)
-FERNANDA TAKAI :
« Ao vivo, Luz Negra » (Deckdisc)


CD’S :

-PAULINHO MOSKA & convidados : « Zoombido II » (Biscoito fino)
-DIOGO POÇAS : « Tempo » (Warner)
-BRUNA CARAM :
« Feriado pessoal » (Dabliú)

-MARCIO MONTARROYOS :
« O Rio e o mar » (Emi)

-MARCEL POWELL TRIO :
« Corda com bala » (Rob digital)

-CHIQUINHA GONZAGA :
« Chiquinha e seu tempo » (Biscoito fino)

-Varias :
« Elas cantam Roberto Carlos » (Sony music)

-MARIA JOÃO QUADROS :
« Fado mulato » (Biscoito fino)

-FREJAT :
« Perfil » (Som livre/ Warner)

-MARCOS VALLE & CELSO FONSECA : « Página central » (Biscoito fino)
-LEANDRO SAPUCAHY :
« Cantando Roberto Ribeiro » (Warner)

-ALCIONE : « Acesa » (Sony music)

Voyage sur l'axe Rio-São Paulo...
(São Paulo sur une oeuvre de Agostinho batista de Freitas, 1927-1997)

Pour les interviews, contrairement aux années précédentes, je ne pars pas avec un agenda chargé. Je me laisserai porter au fil des jours, avec quelques règles que je me suis fixées.
-Éviter les interviews avant le show : le stresse de l’artiste le rend absent de la conversation ou le « soundcheck » interminable vous fait attendre des heures.
-Éviter les interviews après le show : moment où l’artiste se retrouve entourés de ses amis, sa famille, ses fans, et où votre rencontre est repoussée à 3 heures du matin.
-Éviter l’interview durant une promotion d’album quand l’artiste est fatigué de répéter la même chose à des dizaines de journalistes qui posent des questions peu originales, quoique légitimes.
-Éviter les artistes qui picollent ou fument des joints durant l’interview (cela arrive plus souvent qu’on ne le croit !)
-Éviter les interviews que l’on vous propose au siège de la maison de disques, dans une ambiance de bureau, froide et aseptisée. Le lieu de l’interview est souvent essentiel à la réussite de celle-ci. Préférer un endroit informel ou la résidence même de l’artiste.
-Éviter les chanteurs ou chanteuses dans le tourbillon du succès, quand il faut batailler ferme pour obtenir une audience…Et quand bien même on aura la bonté de vous l’accorder, il faudra vous contenter de 15 minutes. Mieux vaut alors attendre un prochain voyage, quand la pression médiatique sera retombée, en espérant que l’artiste n’aie pas lui-même disparu de la scène musicale…

Bref, en résumé, les meilleurs « clients » sont les nouveaux talents qui ont encore l’enthousiasme de parler de leur art, ou alors les artistes confirmés qui, sans actualité ni sans pression,vous reçoivent chez eux avec chaleur et courtoisie.


Com relação às entrevistas, ao contrário do que tem ocorrido nos anos anteriores, eu não saio aqui de Bruxelas dessa vez com uma agenda abarrotada. Eu me permitirei completá-la ao longo dos dias, seguindo algumas regras que eu mesmo me impus:
-Evitar as entrevistas antes do show: o estresse do artista o deixa alheio à conversa, e a interminável « passagem de som » te deixa esperando por horas a fio.
-Evitar as entrevistas depois do show: momento no qual o artista se encontra cercado de seus amigos, sua família, seus fãs, e quando teu encontro com ele vai acontecer lá pelas três da manhã.
-Evitar a entrevista durante a promoção de um álbum, quando o artista está cansado de repetir a mesma coisa a dezenas de jornalistas que fazem perguntas pouco originais, mesmo que válidas.
-Evitar os artistas que bebem e / ou fumam durante a entrevista (isso acontece mais amiúde do que se pode imaginar!)
-Evitar as entrevistas para as quais te convidam à sede da gravadora, num ambiente frio e ascéptico. O local da entrevista é muito importante para o seu sucesso. Dar preferência a um espaço informal, ou mesmo à residência do artista.
-Evitar os cantores e cantoras que se encontram no turbilhão do sucesso, quando é necessário travar uma dura batalha para obter uma « audiência »... E quando até mesmo eles ou elas têm a bondade de te receber, você vai ter que se contentar com uns 15 minutos de atenção. Melhor nesse caso esperar por uma próxima viagem, quando a pressão midiática estará arrefecida... e na esperança de que o artista, ele próprio, não tenha desaparecido da cena musical...
Resumidamente: os melhores « clientes » são os novos talentos que ainda têm o entusiasmo de falar sobre sua arte; ou ainda os artistas já consagrados, sem qualquer tipo de pressão, e que vão te receber « em casa », com afeto e cortesia.

Esthétique "pop art" pour un des excellents albums pop/rock de 2009.
"Mordida de Rodrigo Bittencourt.


Avant de partir, je regrette de n’avoir pas eu le temps de vous avoir parler ici des très bons albums de jeunes artistes qui m’ont surpris comme Renato Godá (réédition de son E.P. de sept titres), Rodrigo Bittencourt (« Mordida »), ou Diogo Poças (« Tempo »). L’occasion m’en sera certainement donnée durant ce voyage, mais ceux qui ont écouté le programme Tropicália (en direct ou en podcast), ont déjà pu découvrir leurs talents. Même chose pour le bon album de Simone (« Na veia »), la superbe réédition de « Feito pra ouvir » d’Emilio Santiago, l’étonnant album de Tânia Grinberg (« Na paleta do pintor »), le très beau « Álbum de retrato » de Rosa Emília, ou encore l’excellent « Tudo que respira quer comer » de Carlos Careqa.

Bien…Jeunes gens…On se retrouve ici la semaine prochaine pour le compte-rendu de mes errements musicaux et artistiques au Brésil !


Antes de partir, eu lamento não ter tido tempo de ter falado aqui de muito bons álbuns de jovens artistas que me surpreenderam, como Renato Godá (reedição de seu E.P. de sete títulos), Rodrigo Bittencourt (« Mordida »), e Diogo Poças (« Tempo »). A oportunidade certamente surgirá durante essa viagem; mas aqueles que escutam o programa Tropicália (« ao vivo » ou em podcast) já puderam conferir esses talentos. O mesmo ocorre com o bom disco de Simone (« Na veia »), a soberba reedição de « Feito pra ouvir », de Emilio Santiago, o surpreendente disco de Tânia Grinberg (« Na paleta do pintor »), o belo « Álbum de retrato » de Rosa Emília, e ainda o excelente « Tudo que respira quer comer » de Carlos Careqa.
Bem, gente…nos reencontramos aqui na próxima semana, para o relato de minhas aventuras musicais e artísticas no Brasil!




Segunda parte do programa divulgada sobre as ondas de Rádio Judaica o 14 de Setembro, às 15:15 (hora Brasilia)
Deuxième partie de l'émission divulguée sur Radio Judaica, le 14 septembre, à 20h15.


BLOCO 2 :

-SIMONE :
«Love » (Paulo Padilha)
-PAULO PADILHA : « O Cobrador » (Paulo Padilha)
-ALCIONE : « Sufoco » (Chico da Silva/ Antônio José)
-MARCOS SACRAMENTO & CLARA SANDRONI : « Bocoché » (Baden Powell/ Vinicius de Moraes)
-CHICO BUARQUE : « Dura na queda » (Chico Buarque)
-DIOGO NOGUEIRA : « Sou eu » (Ivan Lins/ Chico Buarque)
-RENATO GODÁ : « O que você quer eu não sei » (Renato Godá)
-NEY MATOGROSSO : « Lema » (Carlos Rennó/ Lukua Kanza)
-ARNALDO ANTUNES : « Paradeiro » (Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown/ Marisa Monte)
-NANDO REIS : « Pra você guardei o amor » (Nando Reis)
-CARLOS CAREQA (c/TATIANA PARRA) : « Isso passará » (C.Careqa)
-ANDRÉ ABUJAMRA : « Essa música não existe » (André Abujamra)
-SIMONE : « Certas noites » (Dé Palmeira/ Adriana Calcanhotto)
-VANESSA DA MATA : « Ai, ai, ai » (Liminha/ Vanessa da Mata)

dimanche 20 septembre 2009




Primeira parte do programa divulgada sobre as ondas de Rádio Judaica o 14 de Setembro, às 15:15 (hora Brasilia)
Première partie de l'émission divulguée sur Radio Judaica, le 14 septembre, à 20h15.

BLOCO 1 :
-ANA CAROLINA : « Torpedo » (Ana Corolina/ Mombaça/ Gilberto Gil)
-PAULA TOLLER : « Derretendo satélites » (Herbert Vianna/ Paula Toller)
-MARIA GADÚ : « Shimbalaiê » (Maria Gadú)
-ANNA LUISA : « Do zero » (Seu Jorge/ Pedro Luis)
-JOÃO GILBERTO : « Doralice » (Dorival Caymmi)
-EMILIO SANTIAGO : « Tristeza de nós dois » (Durval Ferreira/Bebeto/ M.Heinhorn)
-LENY ANDRADE : « O Sol nascerá » (Cartola/ Elton Medeiros)
-GEORGE ISRAEL : « As rosas não falam » (Cartola)
-FERNANDA PORTO : « Cidade sem fim » (Fernanda Porto)
-ANTÓNIO ZAMBUJO : « Quando tu passas por mim » (Vinicius de Moraes/ Antônio Maria)
-SÉRGIO GODINHO : « Lisboa que amanhece » (Sérgio Godinho)
-PEDRO ABRUNHOSA (c/LENINE) : « Um Mágico no peito » (P.Abrunhosa)
-TOTONHO VILLEROY : « Una louca tempestad » (Villeroy/ Bebeto Alvez)
-ANA CAROLINA : « Tá rindo, é ? » (Ana Carolina/ Mombaça/ Antônio Villeroy)

jeudi 17 septembre 2009

Une pochette, un album… : Pitty, Tiê, João Bosco.

(texto francês, texto português traduzido do francês)

Plus qu’un simple élément esthétique ou une accroche visuelle, la pochette d’un album se doit de refléter une atmosphère. Elle nous met en condition pour nous plonger dans un univers musical. Que ce soit par ses couleurs, ses tonalités, la composition graphique, ou l’imaginaire du sujet représenté. Qu’on le veuille ou non, l’emballage du disque jouera inconsciemment dans l’approche et l’écoute de celui-ci.
Je me suis amusé rapidement à analyser le contenu et le contenant de quelques albums acquis ces dernières semaines…


Mais do que um simples elemento estético ou um apelo visual, a capa de um álbum pretende refletir uma determinada atmosfera. Ela nos dá condição para mergulharmos num certo universo musical. Quer seja através de suas cores, suas tonalidades, sua composição gráfica, e, no conjunto, através do imaginário em torno do tema ali representado. Quer queira, quer não, a embalagem do disco atuará inconscientemente na abordagem e na audição que se fará dele. Eu me diverti rapidamente ao analisar o conteúdo e a embalagem de alguns álbuns adquiridos nessas últimas semanas...

Pitty : « Chiaroscuro » (Deckdisc)

La pochette : typiquement rock. Le nom de Pitty est inscrit tel un graffiti stylisé tracé au pinceau grossier sur un mur en crépi. L’esthétisme est dure, en noir et blanc, et en fait de blanc, ce sont surtout de nombreux dégradés de gris qui évoquent un aspect sale et urbain. Au dos de la pochette, une présentation assez classique pour ce genre d’album : le groupe au regard ténébreux (ou caché par des lunettes obscures) est appuyé contre un mur en béton gris. La photo apparaît, elle aussi, en noir et blanc. L’intérieur du livret est conçu dans le même esprit. On a compris : on n’est pas ici pour conter fleurette !
L’album : Pitty revient bel et bien avec son rock saignant construit autour de sa batterie plombée, sa basse ronflante et ses guitares saturées. La jeune bahianaise avait surpris tout le monde en 2003 avec « Admiravel Chip novo » et son (hard) rock « teenage », mais elle s’était très vite enfermé dans une formule d’où l’on ne la voyait pas sortir. «Anacrônico » (2005) n’était qu’une faible copie du premier album.
Avec « Chiarosuro », Pitty nous étonne en nous proposant des mélodies plus travaillées qui flirtent parfois avec la pop « sixties » (Me adora, Fracasso). Bien sûr l’habillage est toujours très « métal », mais plus aéré qu’auparavant et donc plus digeste sur la longueur. Ajoutez à cela, qu’elle y chante mieux qu’avant, et l’on comprendra que Pitty s’ouvre de nouveaux horizons musicaux qui lui promettent un avenir qu’on ne lui soupçonnait plus. Même sur les titres les plus « heavy » comme 8 ou 80 et l’excellent Medo, Pitty et son excellent groupe atteignent des sommets du genre. Une belle surprise…

A capa : tipicamente rock. O nome de Pitty é gravado através de um grafite estilizado ao estilo gótico, traçado por um pincel grosseiro num muro de cimento enrugado. A estética é dura, em preto e branco, e no que concerne ao branco, são sobretudo sobre ele que surgem os numerosos degradês em cinza que evocam um aspecto « sujo » e urbano. No verso da capa, uma representação bastante clássica para esse gênero de álbum : o grupo de olhar tenebroso (ou escondido pelos óculos escuros) fica encostado contra um muro de concreto cinza. A foto aparece, aqui também, em preto e branco. O conteúdo do livreto é concebido dentro do mesmo espírito. Entendemos o recado : não é aqui que vão encontrar-se florzinhas !
O álbum: Pitty retorna bem, com seu rock sangrento, construído em torno de sua bateria plúmbea, seu baixo estertorante e suas guitarras saturadas. A jovem baiana havia surpreendido a todos em 2003 com seu « Admirável Chip novo » e seu (hard) rock « adolescente » ; porém, ela viu-se rapidamente enquadrada numa fórmula da qual ela ela não mais via saída. «Anacrônico » (2005) não passa de uma pífia cópia de seu primeiro álbum.
Com « Chiaroscuro », Pitty nos maravilha ao nos propor melodias mais trabalhadas, que vêm a flertar por vezes com a música pop dos anos sessenta (Me adora, Fracasso). Naturalmente que sob essa roupagem o som é ainda muito « metal », porém mais arejado do que no passado, e dessa forma, então, mais digerível ao decorrer do disco. Acrescente-se a isso tudo o fato de que ela canta melhor do que antes, e daí apreende-se que Pitty se abre a novos horizontes musicais que pometem um porvir até então insuspeito. Mesmo com os títulos mais « heavy », como 8 ou 80, e o excelente Medo, Pitty e seu competente grupo atingem o auge dentro de seu gênero. Uma bela surpresa...

Tiê : « Sweet jardim » (indep)

La pochette :
encore du noir et blanc pour une musique à l’opposée de celle de Pitty.
Mêlant le minimalisme, le découpage et les dessins d’enfant, la pochette est fortement dominée par le noir d’où se détache la silhouette d’un oiseau blanc (le tiê est un oiseau assez répendu au Brésil) qui chante le nom de l’artiste dans un phylactère. Çà et là, d’autres éléments tracés en blanc, des petits cœurs, des étoiles, des vagues stylisées, des éléments de rideaux, qui nous évoquent un univers de rêve féminin ou plutôt d’adolescente. L’esthétique en aplats est japonisante. Au dos de l’album, une toute petite photo montre une partie du visage de la chanteuse tel un collage maladroit. Les cils de ce visage évoquent les ailes de l'oiseau. Une simple feuille pliée se trouve dans l’emballage digipack, où l’on retrouve les mêmes motifs éparpillés entre les textes dactylographiés. On se retrouve dans le monde l’enfance et de la scolarité. Dans les pages des carnets intimes fait de collages et de poésies.
L’album : Voilà donc rendu magnifiquement tout l’univers de Tiê, chanteuse de São Paulo que l’on encense dans le circuit musical branché. Proche de la nouvelle scène française, Tiê dévoile une musique dépouillée, rendue avec une économie de moyens instrumentaux. Voix et guitares ; voix, guitares et piano, l’ensemble accompagné parfois d’un fender rhodes, ou d’un vibraphone qui lui donne une légèreté toute bucolique. On voyage entre le folk susurré (je n’ai pas pu m’empêcher de penser à Carla Bruni !), et des mélodies -voire des comptines- qui peuvent paraître innocente. Mais l’on ressent parfois un certain mystère et une inquiétude qui plane. Comme si un drame allait s’abattre sur le doux jardin obscur de la pochette.
Un album étonnant et une artiste qui propose un univers musical original pour la scène brésilienne, et qui ne manque pas de séduction.


A capa : ainda em preto e branco, mas para um tipo de música oposto daquela de Pitty.
Mesclando o minimalismo, a decupagem e os desenhos infantis, a capa é fortemente dominada pelo negro, do qual se destaca a silhueta de um pássaro branco (a própria Tiê, evidentemente) que « canta » o nome da artista dentro de um balão. Aqui e ali, outros elementos traçados em branco, como pequenos corações, estrelas, ondas do mar estilizadas, e elementos de cortinas rendadas, que nos evocam um universo de sonho feminino, e sobretudo adolescente. A estética em cores específicas sem qualquer tipo de gradação vem de um código essencialmente japonês. No verso do disco, uma pequenísima foto mostra uma parte do rosto da cantora (cujos cílios são as asas do pássaro) através de uma colagem amadorística. Uma simples folha de papel dobrada se encontra dentro da embalagem digipack, sobre a qual repousam os mesmos motivos espalhados por entre os textos datilografados. Encontramo-nos num espaço da infância e da escola ; dentro das páginas dos diários íntimos feitos de colagens e de poesias.
O álbum : aqui está então apresentado magnificamente todo o universo de Tiê, cantora de São Paulo que é incensada no circuito musical antenado. Próxima à nova cena francesa, Tiê revela uma música despojada, criada com certa economia de recursos instrumentais. Voz e violões ; voz, violões e piano ; o conjunto acompanhado de vez em quando de um fender rhodes ou de um vibrafone que lhe confere uma ligeireza absolutamente bucólica. Viaja-se entre o folk sussurrado (não posso me privar aqui de pensar em Carla Bruni !), e melodias – a exemplo das cantigas infantis – que podem parecer inocentes. Mas Tiê resgata por vezes um certo mistério e inquietude que plana no ar. Como se um drama estivesse para se desenrolar dentro do doce jardim obscuro da capa. Um álbum surpreendente, de uma artista que propõe um código musical original para a cena brasileira, sem abrir mão de um toque de sedução.


JOÃO BOSCO : « Não vou pro céu… » (MP,B/ Universal)

La pochette : …classique au premier abord, mais néanmoins assez intrigante. Un « close up » imposant sur le visage de l’artiste coiffé de son habituelle casquette. Un portrait d’autant plus impressionnant que l’expression est presque cynique. Il nous fixe droit dans les yeux et nous scrute, le sourire en coin, habillé de noir. Une expression qui fait écho à la première partie du titre de l’album « Não vou pro céu… » (Je ne vais pas au ciel), tandis que le dos du disque, qui montre la nuque, complète : « …mas já não vivo no chão » (mais je ne vis déjà plus sur terre ). Aucun élément musical n’est présent, c’est l’homme seul qui se livre sans fard, sortant presque de la photo. Son nom se détache en évidence sur le couvre-chef et le titre, en dessous, est un vers de la chanson Sonho de caramujo (J.Bosco/ Aldir Blanc). L’intérieur du livret est moins austère, présentant des photos où la guitare -instrument avec lequel l’artiste a toujours fait corps- est mise en évidence.
L’album : « Não vou pro céu » est le retour en grâce de João Bosco, depuis son dernier album d’inédits –« Malabaristas do sinal vermelho »- de 2003. Le ton de l’album est relativement suave et calme, enchaînant ballades et bossas teintées de jazz, mais il n’apparaît à aucun moment monocorde. Très loin de là ! João a ciselé chaque mélodie, et dans ce domaine, nous savons que c’est un orfèvre. Tant Pintura (J.Bosco/ Carlos Rennó) que Perfeição et Desnortes apparaissent déjà comme des classiques. Ces deux derniers étant composés avec son fils -le parolier et écrivain Francisco Bosco- qui collabore avec son père depuis « As Mil e uma aldeias » (1997). L’album voit également le retour de la collaboration avec Aldir Blanc sur quatre titres. Un duo -auteurs de dizaines de classiques- qui date du début de la carrière de João en 1972. Une collaboration qui reste aussi emblématique de la MPB resistante à la dictature, comme l’était le duo Ivan Lins/ Vitor Martins.
João Bosco n’accélère le rythme qu’à de rares occasions comme avec la salsa Tanajura (J.Bosco/ F.Bosco), la samba Sonho de caramujo, ou le brillant Jimbo no jazz (J.Bosco/ Nei Lopes), un titre percussif afro brésilien, typique du monde musical de l’artiste. L’album est tout simplement brillant, et comme sur la pochette, João Bosco s’impose d’un bloc, donnant le meilleur de lui-même en tant que guitariste, interprète et compositeur. Un maître de la MPB dans chacun de ces domaines.

A capa :
...clássica ao primeiro olhar, mas não menos bastante intrigante por isso. Um « close up » imponente do rosto do artista adornado por seu habitual boné. Um retrato um tanto quanto impressionante, a ponto da expressão parecer quase cínica. Ele nos fixa diretamente nos olhos e nos esquadrinha, um sorriso de canto de boca, vestido de preto. Uma expressão que tem eco na primeira parte do título do álbum « Não vou pro céu… », ao passo que o verso do disco, que mostra a nuca, completa a frase : « …mas já não vivo no chão ». Nenhum elemento musical está presente : é o homem, simplesmente, sem máscara, quase saindo da foto. Seu nome se destaca em evidência no alto da capa, sobre o boné, e o título embaixo é um verso da canção Sonho de caramujo (J.Bosco/ Aldir Blanc). O conteudo do livreto é menos austero, apresentando fotos nas quais o violão – instrumento ao qual ele está itimamente ligado – é posto em evidência.

O álbum : « Não vou pro céu » é o retorno da graça de João Bosco, depois do seu último álbum de inéditas - « Malabaristas do sinal vermelho » - de 2003. O tom do álbum é relativamente suave e calmo, encadeando baladas e bossas tingidas de jazz, mas não parece em qualquer momento monocórdio. Muito longe disso ! João burilou cada melodia, e dentro de seu campo, nós sabemos que isso é da ordem dos ourives. Pintura (J.Bosco/ Carlos Rennó), Perfeição e Desnortes já despontam como clássicos. Essas duas últimas compostas em parceria com seu filho – o letrista e escritor Francisco Bosco – que colabora com seu pai desde « As Mil e uma aldeias » (1997).
O álbum traz igualmente o retorno da colaboração de Aldir Blanc em quatro faixas. Uma dupla - autores de dezenas de clássicos – que data da estréia da carreira de João, em 1972. Uma parceria que continua também emblemática da MPB como resistente à ditadura, assim como o foi o duo Ivan Lins/ Vitor Martins.
João Bosco não acelera o ritmo, a não ser em raras ocasiões como na salsa Tanajura (J.Bosco/ F.Bosco), no samba Sonho de caramujo, ou no brilhante Jimbo no jazz (J.Bosco/ Nei Lopes), uma faixa percussiva afro-brasileira, típica do universo musical do artista. O álbum é simplesmente brilhante, e assim como na capa, João impôe-se de uma tacada, dando o melhor de si mesmo tanto quanto guitarrista, intérprete e compositor. Um mestre da MPB em cada um de seus campos.


samedi 12 septembre 2009



Segunda parte do programa divulgada sobre as ondas de Rádio Judaica o 7 de Setembro, às 15:15 (hora Brasilia)
Deuxième partie de l'émission divulguée sur Radio Judaica, le 7 septembre, à 20h15

-ZÉLIA DUNCAN : « Boas razões » (Alex Beaupain/ Zélia Duncan)
-JOÃO BOSCO : « Perfeição » (J.Bosco/ Francisco Bosco)
-Medley : GUINGA & PAULO SÉRGIO SANTOS// LEILA PINHEIRO : « O Côco do côco » (Guinga/ Aldir Blanc)
-FERNANDA CUNHA : « O Primeiro jornal » (Suely Costa/ Abel Silva)
-NÁ OZZETTTI : « O Samba e o tango » (Amado Regis)
-FERNANDA TAKAI : « Com açúcar com afeto » (Chico Buarque)
-CHICO CÉSAR : « Girassol » (Chico César)
-ALCEU VALENÇA : « Como dois animais » (Alceu Valença)
-CAETANO VELOSO : « Trilhos urbanos » (Caetano Veloso)
-TIÊ : « Assinado eu » (Tiê)
-MITON NASCIMENTO & BELMONDO : « Canção do sal » (M.Nascimento)
-MART’NÁLIA : « Entretanto » (Mart’nália/ Mombaça)
-JOÃO BOSCO : « Jimbo no jazz » (J.Bosco/ Nei Lopes)

mercredi 9 septembre 2009

O fenômeno Ana Carolina : 10 anos de carreira.

"...e a platéia parecia bastante aturdida diante daquela bela guerreira
de voz poderosa"
(foto Washington Possato)


(texto traduzido do francês, escrito especialmente para um público francófono que não conhece a cantora)

Isso pode parecer difícil de se imaginar para um brasileiro, mas o nome de Ana Carolina tem pouca ressonância na Europa e nos Estados Unidos. É bem mais provável ter-se a sorte de encontrar na França, por exemplo, o mais recente álbum de Mariana Aydar ou de Vanessa da Mata do que o da cantora de Juiz de Fora (Minas Gerais). Claro que excluindo-se Portugal dessa constatação.
A despeito dos seus recordes de vendas que, no Brasil, deixaram bem para trás seus colegas da MPB tradicional, pode parecer que o plano de carreira de Ana Carolina não tenha previsto uma conquista do mercado estrangeiro. Tanto que através de seu último álbum, « N9ve », é possível até antever alguns sinais de abertura a tanto (ver mais à frente).
Já em 2003, quando eu havia conseguido sem problema todas as entrevistas individuais que eu desejava, pude apenas participar de uma coletiva na qual Ana Carolina apresentou seu álbum « Estampada ». A explicação que me foi dada por seu empresário à época teve o mérito de ser clara : « Nós apreciamos seu interesse pela artista, mas nós não pretendemos distribuir os álbuns da Ana na França e na Bélgica, portanto acho pouco útil tentar organizar um encontro com ela tendo essa finalidade ». É verdade que na época eu ainda não militava nas fileiras das ondas radiofônicas.
Com relação à discografia de Ana Carolina, somente seu cd / dvd em público com Seu Jorge (2005) ficaram restritos a uma distruibuição discreta e mereceram umas poucas linhas por parte da imprensa especializada... graças à presença de Seu Jorge. Mas essa timidez é em sua totalidade bastante compreensível.
Contrariamente a artistas como Marisa Monte, Daniela Mercury, Mariana Aydar, Céu, ou ainda Vanessa da Mata, Ana Carolina pratica uma música brasileira baseada em grande parte nos critérios « pop », muito pouco « exótica » para aguçar a curiosidade dos aficcionados da World Music.
Como me havia dito em entrevista o compositor e cantor Roberto Frejat : « Eu toco uma música influenciada pelo rock inglês e americano, e eu não vejo o porquê de um consumidor estrangeiro interessar-se por um artista que pratica a mesma música que ele já conhece, e ainda por cima cantada em português ». A abordagem musical (sobretudo rítmica) de Ana Carolina me pareceu no entanto profundamente brasileira, mas minha visão sem dúvida alguma já está bem ditorcida depois de tanto tempo.

Foi totalmente por acaso que eu assisti pela primeira vez à Ana Carolina, em 1999, através da transmissão televisiva Bem Brasil, que a consagrou. Esse programa apresentava todo domingo à tarde, veiculado pela TV Cultura, duas apresentações de artistas, captadas ao vivo no Sesc Pompéia de São Paulo. Ana era então praticamente desconhecida do público ; seu primeiro álbum viria a sair na mesma semana, e a platéia parecia bastante aturdida diante daquela bela guerreira de voz poderosa, que já nos havia balançado com Garganta (seu primeiro grande sucesso), Tô saindo, e ainda as versões « viris » de Retrato em branco e preto (Tom Jobim/ Chico Buarque) ou de Alguém me disse (Evandro Gouveia/ Jair Amorim). Ela apresentou um toque de violão percussivo, e surpreendeu a todo mundo ao atacar sozinha com o pandeiro sua composição Armazém. Ana Carolina seguia bem a linha dessa onda feminina dos anos 90, que viu nascer uma geração de cantoras – mas também de compositoras – de personalidade forte, como Cássia Eller, Zélia Duncan e Adriana Calcanhotto - sem esquecer Marisa Monte ou Fernanda Abreu, essas um pouco mais no início daquela década.
Porém, mais que todas as outras, Ana foi a que chegou mais perto dos habituais grandes vendedores de álbuns como Ivete Sangalo e Roberto Carlos (não falo aqui de vendas referentes à musica sertaneja ou de discos de « padres » evangélicos & afins).

« Ana Carolina »
(1999) vem a ser disco de ouro (a partir de 100.000 cópias, na época), e seu segundo álbum « Ana Rita Joana Iracema e Carolina » (2001), foi disco de ouro e de platina. Extraído desse último, Quem de nós dois (Gean Luca Grignani/ Massimo Luca) vem a ser a faixa mais executada no rádio em 2001.
O ano de 2003 será aquele da consagração absoluta para Ana Carolina. Com seu terceiro álbum, « Estampado », ela atinge o apogeu de seu talento, mas talvez também - segundo alguns - seus limites. O álbum é brilhante e contém um número de muitos bons títulos como Vestindo estampado, Encostar na tua, 2 Bicudos ou O Beat da beata. É também o ano do reconhecimento por parte de seus pares. No primeiro dvd de « Estampado » -em parte documentário- a vemos ao lado de Chico Buarque, Maria Bethânia e João Bosco, que não disfarçam sua admiração pela cantora. Ao nível das composições, ela assina parcerias com Chico César, Vitor Ramil, Celso Fonseca e Seu Jorge, ainda que junto com seu velho cúmplice Antônio Villeroy.


Ainda em 2003, através de uma espécie de ritual de sagração, ela reuniu perto de 10.000 pessoas no Claro Hall de Rio de Janeiro, para a gravação de um segundo dvd público.
Pelo fato de ter ido assistir no local, eu posso testemunhar que havia uma certa histeria, atestando que estávamos em plena « Carolinomania ». Um sucesso que começa por sinal a irritar a crítica, de tanto que a artista insiste em não chegar a um meio termo. Ana Carolina tranformou-se numa espécie de cantora barroca, que abusa de efeitos vocais excessivos e que joga com uma subversão um pouco antiquada, ao cantar sua bissexualidade assim com tão pouca sutileza. Mas o sucesso vai crescendo, e o cd/dvd que reúne Ana Carolina e Seu Jorge num concerto acústico em 2005 é novamente ouro e platina, ao passo que, no mesmo ano, a compilação Perfil que é a ele dedicada, ultrapassa os 800.000 exemplares.
Sempre marcada pelo timbre do excesso, Ana Carolina se lança então ao perigoso desafio de apostar num álbum duplo - « Dois quartos ». Mas a inspiração da cantora parece esgotada. A fonte esvaiu-se, e o álbum soa pretencioso e sem fôlego. O público ainda acompanha (disco de platina), mas a crítica se deleita com o declínio. Nesse meio tempo, ela terá assim mesmo ofertado algumas pequenas pérolas de sua criação como Sinais de fogo (c/ Totonho Villeroy) a Preta Gil, Cabide a Mart’nália, Escolher a Luiza Possi, e a muito boa Doida de varrer (c/ Chacall) ao grupo Moinho. « Dois Quartos ao vivo » seguirá o rastro do álbum homônimo em estúdio, e às vésperas de « N9ve », seu mais recente opus, terão sido nada muito menos do que uns três milhões de cd’s que Ana Carolina terá vendido em dez anos de carreira...

Geralmente depois de um prato um pouco pesado demais, a gente se rende a uma canja de galinha para dar algum sossego a nosso estômago. E de certa forma, o álbum « N9ve » é um pouco isso... Depois da overdose de 24 títulos do álbum « Dois quartos », Ana Carolina faz uma dieta ligeira através de um número de faixas inferiror ao que se produz habitualmente. Nove canções, é o bastante... ou é pouco, de acordo com a qualidade destas.
Se « N9ve » não é o álbum da ressureição, ele parece ao menos levar a vantagem de uma convalescença. Pode-se dizer que não é preciso demais para se esperar por tão pouco. Atrás da bela capa minimalista, e a excelente produção de Alê Siqueira e duo Mário Caldato/ Kassin, revela-se um repertório ainda fortemente irregular. 10 minutos (A.C / Chiara Civello)- tango com toques eletrônicos, Era (Ana Carolina)-balada penosa conduzida pelo violoncelo, e Dentro (A.C / Dudu Falcão) –muito previsível- nos batem como frágeis variações de títulos já conhecidos. Em contrapartida, o álbum contém verdadeiras belas surpresas como o samba Torpedo, escrito com Gilberto Gil e Mombaça ; Traição (A.C/ Chiara Civello), composição intimista com acentos jazzísticos ; e o irresistível Tá rindo, é ? (A.C/ Mombaça/ Antônio Villeroy) que nos reporta aos melhores momentos da cantora.
Por outra via, coloca-se a questão do interesse por duetos em inglês (com John Legend, em Entreolhares) ou em italiano (Resta, com Chiara Civello), se é que isso não é justamente para fazer uma tentativa de por o pé no mercado externo. Artisticamente, isso não se justifica. Em resumo, « N9ve » não converterá os detratores de Ana Carolina –mesmo que ela cante de maneira mais comedida, dosando suas capacidades vocais das quais não se duvida mais ! – e alegrará aos numerosos fãs que já o transformam – o álbum – num sucesso de vendas. Que eles se alegrem : já é previsto o dvd...



Le phénomène Ana Carolina : 10 ans de carrière.

(texto português em breve)

C’est sans doute difficile à croire pour un Brésilien, mais le nom d’Ana Carolina n’a que très peu de résonnance en Europe et aux Etats-Unis. Il est bien plus aisé de trouver en France, par exemple, le dernier album de Mariana Aydar ou de Vanessa da Mata que celui de la chanteuse de Juiz de Fora (Minas Gerais). Il faut bien sûr exclure le Portugal de ce constat.

Malgré des records de ventes qui, au Brésil, laissent loin derrière ses collègues de la MPB traditionnelle, il semblerait que le plan de carrière d’Ana Carolina n’ait pas prévu une conquête du marché étranger. Quoi que son dernier album « N9ve » pourrait laisser entrevoir quelques signes d’ouverture (voir plus loin).
Déjà en 2003, alors que j’obtenais aisément toutes les interviews désirées, j’eus droit tout au plus à une conférence de presse durant laquelle Ana Carolina présentait son album « Estampada ». La raison qui me fut donnée par son agent artistique de l’époque avait le mérite d’être clair : « Nous apprécions votre intérêt pour l’artiste, mais nous ne prétendons pas distribuer les albums d’Ana en France et en Belgique, d’où l’inutilité d’organiser une telle rencontre ». Il est vrai qu’à l’époque, je n’officiais pas encore sur les ondes radiophoniques, et que l'agenda médiatique de l'artiste était surbooké.

Concernant la discographie d’Ana Carolina, seul son cd/ dvd en public avec Seu Jorge (2005) eut droit à une distribution discrète et à quelques lignes dans la presse spécialisée…dues à la présence de Seu Jorge.Mais cette frilosité est somme toute assez compréhensible.
Contrairement à des artistes comme Marisa Monte, Daniela Mercury, Mariana Aydar, Céu, ou encore Vanessa da Mata, Ana Carolina pratique une musique brésilienne basée en grande partie sur les critères « pop », trop peu exotique pour aiguiser la curiosité des amateurs de World Music.
Comme me le disait en interview le compositeur et chanteur brésilien, Roberto Frejat : « Je joue une musique influencée par le rock anglais et américain, et je ne vois pas pourquoi le marché étranger s’intéresserait à ma musique, qui plus est, chantée en portugais ». L’approche musicale (surtout rythmique) d’Ana Carolina m’apparaît pourtant profondément brésilienne, mais ma vision est sans doute déjà depuis bien longtemps distordue.

Ce fut totalement par hasard que je vis pour la première fois Ana Carolina en 1999, lors de l’émission télévisée Bem Brasil qui lui était consacrée. Ce programme présentait chaque dimanche après-midi sur TV Cultura deux prestations captées en plein air au Sesc Pompéia de São Paulo. Ana était alors pratiquement inconnue du grand public et son premier album venait de sortir la même semaine. Le public semblait assez abasourdi devant cette belle guerrière à la voix puissante qui nous balançait déjà Garganta (son premier gros succès), Tô saindo, ou encore les reprises « viriles » de Retrato em branco e preto (Tom Jobim/ Chico Buarque) ou de Alguém me disse (Evandro Gouveia/ Jair Amorim). Elle démontrait un jeu de guitare percussif, et surprenait tout le monde en attaquant seule au pandeiro, sa composition Armazém. Ana Carolina suivait bien la lignée de cette vague féminine des années 90, qui avait vu naître une génération de chanteuses compositrices à forte personnalité comme Cássia Eller, Zélia Duncan, Adriana Calcanhotto, sans oublier Marisa Monte ou Fernanda Abreu un peu plus tôt dans la décennie.
Mais plus que toutes les autres, elle allait très tôt chatouiller de près les habituels gros vendeurs d’albums comme Ivete Sangalo ou Roberto Carlos (je ne parle pas ici du marché de la musique sertaneja ou des albums des « padres » évangéliques ou autres).
« Ana Carolina » (1999) sera disque d’or (à partir de 100.000 examplaires à l’époque), et son deuxième album « Ana Rita Joana Iracema e Carolina » (2001), disque d’or et de platine. Extrait de ce dernier, Quem de nós dois (Gean Luca Grignani/ Massimo Luca) sera le titre le plus exécuté en radio en 2001.

L’année 2003 sera celle de la consécration absolue pour Ana Carolina et d’une médiatisation tout azimuth. Avec son troisième album « Estampado » (ici à droite), elle atteint l’apogée de son talent, mais peut-être aussi –selon certains- ses limites. L’album est brillant et contient son lot d’excellents titres comme Encostar na tua, O Beat da beata, Vestindo estampada, 2 Bicudos, et d’autres. C’est aussi l’année de la reconnaissance de ses pairs. Sur son premier dvd « Estampado » -en partie documentaire- on la voit aux côtés de Chico Buarque, Maria Bethânia, ou João Bosco, qui ne cachent pas leur admiration pour la chanteuse. Au niveau des compositions, elle signe des collaborations avec Chico César, Vitor Ramil, Celso Fonseca, Seu Jorge, ainsi qu'avec Totonho Villeroy, complice de la première heure.

La grand messe d'Ana Carolina, en 2003, au Claro Hall de Rio de Janeiro.

Toujours en 2003, tel un sacre, elle réunit près de 10.000 personnes au Claro Hall de Rio de Janeiro, pour l’enregistrement d’un second dvd en public. Pour y avoir assisté, je peux témoigner qu’une certaine hystérie attestait qu’on était en pleine Carolina-mania. Un succès qui commence d’ailleurs à irriter la critique d’autant que l’artiste ne fait pas dans la demi-mesure. Ana Carolina devient en quelque sorte une chanteuse baroque, qui abuse d’effets vocaux excessifs et qui joue d’une subversion un peu surannée, en chantant sa bisexualité avec assez peu de subtilité. Mais le succès va croissant et le cd/dvd qui réunit Ana Carolina et Seu Jorge en concert acoustique en 2005 est à nouveau d’or et de platine, tandis que la même année la compilation « Perfil » qui lui est dédiée dépasse les 800.000 exemplaires.

Toujours marqué par le sceau de l’excès, Ana Carolina se lance alors dans le périlleux défi de sortir un double album –« Dois quartos ». Mais l’inspiration de la chanteuse semble épuisée. La source est tarie et l’album paraît prétentieux et poussif. Le public suit toujours (disque de platine), mais la critique se fait une joie de la crucifier. Entre-temps, elle aura quand même offert quelques petits bijoux de sa création comme Sinais de fogo (c/ Totonho Villeroy) à Preta Gil, Cabide à Mart’nália, Escolher à Luiza Possi, ou le très beau Doida de varrer (c/ Chacall) au groupe Moinho. « Dois Quatos ao vivo » suivra l’album studio homonyme et à la veille de « N9ve », son dernier opus, ce ne seront pas loin de trois millions de cd’s qu’Ana Carolina aura vendus en dix années de carrière…

Généralement après une feijoada un peu lourde, on se rabat le lendemain sur un bouillon de poule pour demandé pardon à son estomac. Et bien l’album « Nove », c’est un peu ça…Après la surdose des 24 titres de l’album « Dois quartos », Ana Carolina fait une diète légère avec un nombre de titres inférieure à ce qui se produit habituellement. Neuf chansons, c’est suffisant… ou c’est peu selon la qualité de celles-ci.
Si « N9ve » n’est pas l’album de la résurrection, il s’apparente d’avantage à celui de la convalescence. C’est-à-dire qu’il ne faut pas trop en attendre non plus. Derrière la très belle pochette classieuse et l’excellente production de Alê Siqueira et du duo Mário Caldato/ Kassin, se révèle un répertoire encore fort irrégulier. 10 minutos (A.C / Chiara Civello)- tango aux touches électroniques- Era (Ana Carolina) -ballade laborieuse emmené par le violoncelle- ou Dentro (A.C / Dudu Falcão) –très convenu-, nous apparaissent comme de faibles déclinaisons de titres déjà entendus. En contrepartie, l’album contient de vraies bons moments comme la samba Torpedo écrite avec Gilberto Gil et Mombaça ; Traição (A.C/ Chiara Civello) composition intimiste aux accents jazzy ; et le très bon Tá rindo,é ? (A.C/ Mombaça/ Antônio Villeroy) qui nous ramène aux meilleurs heures de la chanteuse.
Par contre, on se pose la question de l’intérêt des duos en anglais (avec John Legend sur Entreolhores) ou en italien (Resta avec Chiara Civello), si ce n’est justement pour faire un appel du pied au marché étranger. Artistiquement, cela ne se justifiait pas...
En conclusion, « N9ve » ne convertira pas les détracteurs d’Ana Carolina (même si elle y chante de manière plus mesurée, dosant ses capacités vocales dont on ne doute plus !) et ravira les nombreux fans qui en font déjà un succès de vente. Qu’ils se rassurent, le dvd est déjà en prévision…

En vidéo: "Garganta" joué live en 2003 à Rio, et "Torpedo" en vidéo/audio.



CE BLOG EST DÉDIÉ AUX CURIEUX QUI AIMERAIENT CONNAÎTRE L'ART ET LA MUSIQUE POPULAIRE BRÉSILIENNE. UNE OCCASION POUR LES FRANCOPHONES DE DÉCOUVRIR UN MONDE INCONNU OU IL EST DE MISE DE LAISSER SES PRÉJUGES AU VESTIAIRE.